Se o cenário político brasileiro ensaiar, nas próximas eleições presidenciais, uma candidatura feminina protagonizada por Marina Silva, poderá levar o país à primeira presidenta, a exemplo do que já fizeram outros países, quem sabe, desiludidos, também, com a têmpera oscilante dos homens em relação a condutas de amigos e parceiros políticos e sobretudo em relação ao grupo rebelde, disfarçadamente armado e ostensivo, dos chamados "sem terra".
Sem importar o partido, pois todos são comprometidamente idealizados para trampolim (onde se trabalha com os pés e não com as idéias), a nova figura presidenciável está longe da burrice arrogante do atual presidente; da verborragia alucinante da candidata no pleito passado e da truculência guerrilheira da predileta do Planalto.
No atual estado da política nacional, quando os não comprometidos parecem não existir, quer na chamada base de governabilidade, quer na oposição; e quando os nomes masculinos já passaram por experiências eleitorais bem ou mal sucedidas, a virgindade eleitoral de uma mulher, resoluta e meiga, inteligente e já experimentada nos meandros das tramas políticas dos ministérios e dos palácios, pode seduzir o eleitorado, se persistir o desejo de mudar para por fim a uma ditadura partidária e um conchavo de continuísmo (que está impregnando a América Latina) que não fará bem à democracia desejada para o continente.
Talvez seja possível construir um modo coerente de governar a partir da distância respeitosa que todos deverão adotar da pessoa presidencial feminina, sem os arroubos de intimidade de Marina prá cá e Marina prá lá, que seu porte educado e suave faz questão de impor. Talvez desapareça a figura sudorenta esbravejante dos palanques em que foi transformado o gabinete presidencial. Não haverá, por certo, o dedo em riste para afirmar verdades ou decisões. Nem concessões que ruborizam mais facilmente as faces de uma mulher.
(Por Humberto Ribeiro de Queiroz)
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