segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

DESMATAR NÃO PODE, INUNDAR PODE.


        Uma construção em série de usinas hidrelétricas, projetadas como   programa de atendimento à demanda de energia elétrica, em breve nos titulará como brasilians nature serial killers, e o mundo verá como a abundância territorial e de rede hidrográfica nos faz abrir mão de um programa mais austero de preservação ambiental
.
A vastidão de cinco mil quilômetros quadrados de terra, rios e florestas serão inundados, devorando com tranqüilizada fúria vida vegetal e animal, que tem sido motivo de orgulho nacional, pela nobreza das espécies, para que a seriada construção das usinas tenha lugar, exatamente na área de preservação conhecida como Parque da Amazônia.

Embora a passagem do homem pela selva, em busca de reportagem, como a do Globo Repórter que ilustrou a serial killer, seja composta por flashes ou episódios rápidos (que exigem repetição), a bióloga que se utiliza da “armadilha fotográfica” possui uma avaliação da opulência da população de animais que caminham por terra, em contraponto aos que agitam os galhos das árvores, todos em busca de sol e alimento.

Para muitos filhos da urbs, pouco versados nos hábitos da população selvática, seja a dos animais, seja a dos homens que por ali construíram sem habitat, haverá tempo para procurarem outras paragens, (que aqueles não sabem) estão marcadas como “território” ocupado.  Tudo será difícil aos poucos que escaparem da água avassaladora, além do que, a morte dos recursos disponíveis implicará em insuportáveis readaptações. Tudo pelo progresso.

Se é fato que o estado, a sociedade, o direito – a República, enfim – descriminaliza a inundação como avanço para melhores condições de vida das cidades, das condições de governo, das ostentações luminosas públicas e privadas, talvez tivesse sido de bom alvitre institucionalizar um paulatino desmatamento, que propiciasse a utilização dos recursos madeireiros em construção de “cidades” para os seres humanos (como vai acontecer na construção dos canteiros de obra) e aos animais, proporcionar-lhes uma retirada estratégica que o ruído da moto-serra já os ensina há anos na região.

De fato, é irreversível a perda do tesouro arqueológico – no caso à flor da terra – e da rica biodiversidade representada por centenas de espécies, que o pequeno porte não interessaria à serra...

Fosse o homem descendente do macaco, o atavismo o impediria dessa prática? Dela a criação o tornou capaz?  Ou a autonomia da mente o permite?  Não sei. Recorro a Chesterton (“O homem eterno”): 

“Não é natural ver o homem como um produto natural. Não é ver direito vê-lo como um animal. Não é bom senso chamar o homem de objeto comum do interior ou do litoral. O ser concreto que surge à luz do sol, esse ser ao redor do qual podemos caminhar observando-o de todos os lados, é muito diferente. É também muito extraordinário; e, quanto mais facetas observamos, mais extraordinário parece. Sem sombra de dúvida, não é algo que se infere e flui naturalmente de alguma coisa.”

No canto de Merton, “É um ser majestosamente solitário”.

(Por Humberto Ribeiro de Queiroz)

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