segunda-feira, 1 de setembro de 2014

HISTÓRIA DE UM JÚRI








HISTÓRIA DE UM JÚRI
(por Humberto Ribeiro de Queiroz)


Por júri se chama julgamento
Em economia e popular linguagem,
E lá estavam réu e vítima,
De homicídio tentado, acusado um,
E o outro a implorar mudo perdão,
Seus erros reconhecidos
Na brutal agressão, da qual
O réu o espantara com um tiro para o chão.

Ocorre que do chão tiro,
As nádegas da vítima atingiu,
E em sangramento a hospital baixou.
O laudo da perícia, miseravelmente elaborado,
Deu ensejo ao promotor para taxar a defesa
De tentativa dolosa de homicídio simples.

A júri vai o réu, e nosso escritório –
Por legítima defesa se propõe livrá-lo.
Debates travados, jurados tensos,
Contempla a Promotora atuante,
Réu e vítima arrependidos, amigos como outrora -
Dois velhos - de tanto demorou o júri.

Negar a promotoria que por trás o tiro fora
Alojar-se em nádegas de quem corria,
Jamais se poderia, que ambos assim contaram.
Mas, em que letal ameaça permaneceu a vítima
Não podia a Promotoria provar com ciência e cabimento.
Conflitavam a técnica jurídica e a verdade
Em espinhoso campo de justiça e normas,
Eis que senão quando irrompe a Promotora –
Que só mulher sabe faze-lo -, e, em último dizer da acusação
Aos jurados pede, eloquente e séria,
Que por perdão também julgassem
O quadro de perdão que no Plenário se via.

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